Provas mostram ‘com vigor’ que Temer praticou corrupção, afirma a Polícia Federal

Conforme o site G1, a Polícia Federal afirmou ter encontrado evidências que indicam com vigor a existência de corrupção praticada pelo presidente Michel Temer. O relatório parcial do inquérito sobre as delações da JBS afirma que Temer seria o destinatário de vantagens indevidas em função do cargo.

A Polícia Federal analisou o teor de conversas gravadas, interrogou suspeitos e citados no esquema e analisou o que disse o próprio presidente na conversa com Joesley Batista na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu, comparando com provas apresentadas pelos delatores.

O relatório do inquérito destaca que Rodrigo Rocha Loures era o canal de comunicação no governo para atender interesses da J&F. E como ex-assessor presidencial atuou pessoalmente para atender a um pedido de uma das empresas do grupo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica: alguma solução para que a empresa do grupo J&F obtivesse gás da Petrobras para poder vender.

Segundo a Polícia Federal, Loures tomou a iniciativa de conversar com Gilvandro de Araújo, conselheiro e presidente interino do Cade, no modo viva-voz, na presença de Joesley Batista, para expressar o seu interesse pelo tema. E que Loures foi claro ao afirmar a Gilvandro que se tratava de “pendência afeta à Presidência da República e não às funções de parlamentar”.

Segundo os investigadores, Loures terminou a conversa e disse para Joesley que Gilvandro “entendeu o recado”.

Essa negociação envolvendo o Cade, como já mostraram as investigações, gerou pagamento de propina, flagrado numa ação controlada da Polícia Federal, em que Loures recebe uma mala com R$ 500 mil no estacionamento de uma pizzaria em São Paulo.

A polícia diz que, ao menos de forma provisória, foi estabelecida a relação credor-devedor entre Loures e Joesley e, a partir daí, relata como o ex-assessor de Temer discutia detalhes operacionais de pagamentos ilegais em conversas em que a palavra presidente foi citada várias vezes, sem que fosse refutada ou questionada por Loures.

Num diálogo entre Loures e Saud, a PF destaca que, por sugestão de Loures, surgiu uma nova alternativa para pagamentos: o nome de Ricardo Conrado Mesquita, vinculado à empresa Rodrimar, pertencente a Antonio Celso Grecco.

Saud: E o presidente confia nele a esse ponto? Sério? Eu gosto daquele Celso, sabia?
Rocha Loures: (Inaudível).
Saud: Muito. E ele a vida inteira foi Michel, viu? Hora nenhuma ele bandeou pro lado da Dilma.

Segundo os investigadores, esse diálogo “dá força à hipótese de que Michel Temer estivesse vinculado àquela operação”.

A polícia diz que a delação de Ricardo Saud reforça que o destino do dinheiro era Temer.

Saud: Com as minhas palavras eu tenho certeza absoluta que nós tratamos propina com o Temer, nós nunca tratamos propina com o Rodrigo. O Rodrigo foi um mensageiro que Michel Temer mandou para conversar com a gente, para resolver os nossos problemas e para receber o dinheiro dele.

A Polícia Federal também descobriu quem é Edgar, citado em conversas sobres pagamentos entre Loures e o diretor da J&F Ricardo Saud. Em conversas monitoradas, Edgar era tratado por como alguém que resolveria coisas em São Paulo, um possível novo operador de propinas.

Trata-se de Edgar Rafael Safdie, empresário atuante no setor imobiliário, financeiro e de participações, o que se deu por força dos registros de ligações telefônicas em aparelho apreendido com Rodrigo Rocha Loures.

Ouvido a respeito, Edgar reconheceu a relação de longa data que mantém com Loures, rechaçando, no entanto, qualquer participação ou conhecimento dos fatos que estão sendo apurados.

Mas a PF destacou “a informação de que esteve reunido com Rodrigo da Rocha Loures no dia 23/04/17, em São Paulo, véspera do nome de Edgar ter sido ofertado para operar valores advindos da JBS”. Segundo a Polícia Federal, “não houve tempo hábil para um maior aprofundamento dessa questão particular”.

A polícia destaca que o presidente teve a chance de se defender mas optou pelo silêncio ao não responder às 82 perguntas formuladas pelos delegados e enviadas à Presidência e conclui: “Diante do silêncio do mandatário maior da nação e de seu ex-assessor especial, resultam incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nestes autos, a indicar, com vigor, a pratica de corrupção passiva”.

A PF detalha as suspeitas e o grau de participação de Temer e Loures: “Os elementos reunidos no inquérito permitiram que fossem elaboradas conclusões acerca do fato:  pagamento de vantagem indevida pelo grupo J&F a Rodrigo da Rocha Loures imediatamente. E a Michel Temer, presidente da República, remotamente, em razão da interferência ou de suposta interferência no andamento do processo administrativo em trâmite na Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A Polícia Federal pediu mais prazo para outra parte da investigação, sobre as suspeitas de que Temer concordou com a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro; e que Joesley estava corrompendo juízes e procuradores. Um segundo relatório policial sobre essas investigações ainda será apresentado e deve incluir a perícia nos áudios de conversas por Joesley Batista e nos gravadores usados pelo empresário.

A defesa do presidente Michel Temer declarou que o relatório da Polícia Federal não tem valor técnico nem jurídico como peça de acusação e que precisa relatar investigações e não fazer acusações.

O Cade declarou que todos os atos processuais do conselho foram conduzidos pela área técnica com bases legais, sem qualquer favorecimento, e que a ausência de uma decisão a favor da JBS deixa claro que eventuais planos de terceiros não tiveram resultado.

Fonte: G1

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