Propina: OAB e Associação de Magistrados acompanham denúncia feita por advogado contra desembargador em SC

A Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina (OAB-SC) e a Associação de Magistrados Catarinenses (AMC) se posicionaram a respeito da denúncia do advogado Felisberto Odilon Córdova, que afirmou que o desembargador Eduardo Mattos Gallo Júnior cobrou propina de R$ 700 mil para julgar favoravelmente uma ação na 1ª Câmara de Direito Civil.

O caso ocorreu na tarde da quinta-feira (3) durante uma sessão no Tribunal de Justiça de Santa Catarina que julgava o processo. Durante sua sustentação oral, o advogado Córdova acusou o desembargador Gallo de oferecer dinheiro em troca de favorecimento na ação. Exaltado, o advogado afirmou que o julgamento era “comprado”.

“Eu estou fazendo uma denúncia. Esse cidadão foi abordado com uma proposta que veio do Rio de Janeiro, para receber R$ 500 mil, R$ 250 mil antes, R$ 250 mil depois, e o descarado [Gallo] chegou a mandar para o nosso escritório, que poderíamos cobrir isso por R$ 700 mil”.

O desembargador pediu ao juiz providências e a sessão foi interrompida. Toda confusão foi gravada por um celular e o vídeo divulgado nas redes sociais.

O processo em discussão é uma ação de mais de 50 anos. O escritório de Córdova requer honorários advogatícios. A decisão de primeiro grau é no valor de R$ 35 milhões.

O TJSC está julgando o recurso da empresa, que na época contratou o escritório. O voto do relator Gallo foi contrário a decisão de primeiro grau, ou seja, contra o escritório de advocacia.

Nesta sexta-feira (4), Córdova voltou a afirmar que o desembargador tentou “comprá-lo”. Já o desembargador informou que vai se manifestar por nota.

Posições

Conforme a OAB/SC, foi criada uma comissão formada por conselheiros, presidentes de subseção e pela comissão de prerrogativas para atuar no caso. De antemão, o presidente da OAB-SC, Paulo Brincas, disse que os advogados têm a prerrogativa profissional de ocupar a tribuna para fazer denúncias e que a instituição tem o dever de garantir esta prerrogativa.

“Estou convicto que ele apresentará as provas e os fatos serão investigados pelos órgãos competentes. A OAB-SC vai apoiá-lo e acompanhar os desdobramentos das denúncias”, disse o presidente.

Já a AMC se diz preocupada com “as graves acusações desferidas pelo advogado presente à tribuna” e diz “lamentar e repudiar a forma utilizada para se arguir a suspeição dos integrantes”. A entidade defende a investigação, mas considerou inaceitável as ofensas feitas pelo advogado.

Córdova defendeu durante a sessão a nulidade do processo. Ao Jornal do Almoço, ele reforçou a motivação. “Não foi um ato impulsivo, foi uma constatação. A minha constatação de que tudo isso deveria ser verdadeiro estaria em função da maneira que ele julgasse a causa. Não que tivesse que julgar ao meu favor, mas que trouxesse um voto idoneamente técnico”, disse o advogado, que tem 54 anos de profissão.

A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) informou na noite de quinta-feira (3) que o presidente em exercício do tribunal, Alexandre d’Ivanenko, afirmou estar ciente dos fatos e disse que irá analisá-los para tomar as providências cabíveis. O TJSC informou ainda que não há impedimento para que a sessão seja filmada, e que a própria Câmara tem por hábito fazer o registro em vídeo.

Denúncia na sessão

Durante sua sustentação oral, o advogado Felisberto Odilon Córdova se referiu diretamente ao desembargador Eduardo Gallo, relator do processo, e afirmou: “O julgamento que está acontecendo aqui é comprado. Eu estou fazendo uma denúncia. Esse cidadão foi abordado com uma proposta que veio do Rio de Janeiro, para receber R$ 500 mil, R$ 250 mil antes, R$ 250 mil depois, e o descarado [Gallo] chegou a mandar para o nosso escritório, que poderíamos cobrir isso por R$ 700 mil”.

“Isso aqui não é a Câmara dos Deputados, isso aqui é um Tribunal de Justiça, e é preciso que a moralidade surja e venha a termo”, afirmou o advogado em um vídeo gravado com celular que circula pelas redes sociais. Ele se referiu ao desembargador com os termos “safado” e “vagabundo” antes de ser retirado da sessão.

“Eu não vou admitir que um advogado me chame de vagabundo e Vossa Excelência não tome providências. Eu nunca passei por isso na minha vida, eu tenho 25 anos de magistratura. Eu requeiro a prisão do advogado”, disse o desembargador ao presidente da Câmara após a saída de Córdova.

Fonte: G1

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