Por 39 votos a 26, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou nesta quarta-feira, 18, o parecer do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) que pede o arquivamento da denúncia apresentada contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), confirmou há pouco ao Broadcast Político que fará a votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer no plenário na próxima quarta-feira, 25.
Temer e os ministros foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República por organização criminosa com base nas delações do empresário Joesley Batista e do operador financeiro Lúcio Funaro. Segundo o Ministério Público, o grupo teria recebido pelo menos R$ 587 milhões de propina dos últimos anos, oriundos de órgãos como Petrobrás, Caixa Econômica Federal e Furnas.
O presidente da República também foi denunciado, sozinho, por obstrução de Justiça. Temer teria cometido o crime ao, segundo a PGR, ter dado aval à compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso pela Lava Jato.
O placar desta quarta foi menor do que o obtido pelo governo na primeira denúncia, quando a CCJ aprovou relatório a favor de Temer por 41 votos a 24. Na época, o peemedebista foi acusado por corrupção passiva.
Inicialmente o governo calculava obter algo em torno de 42 votos, mas o PSB trocou os integrantes da CCJ nesta quarta-feira para garantir os quatro votos do partido contra Temer. A substituição só foi possível após a bancada destituir a líder Tereza Cristina (MS) e colocar Júlio Delgado (MG) em seu lugar.
Ao defender a rejeição da denúncia, o relator afirmou que faltavam “elementos” para comprovar a acusação feita pela PGR contra Temer e seus dois principais auxiliares. Bonifácio também rebateu as críticas de que estaria atuando sem imparcialidade, por ser da base aliada. “Eu sou relator, não sou líder do governo. Não tenho de defender A, B ou C, tenho de defender a Constituição”, disse.
Em sua manifestação, o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, fez críticas à atuação da PGR e disse esperar “que a era de arbítrio seja banida do País”.
Os advogados dos dois ministros seguiram a mesma linha. “Estamos diante de uma denúncia inepta, vazia e de um Ministério Público que obrou de maneira ideológica”, disse Daniel Gerber, que representa Padilha no processo.
Para Antônio Pitombo, que defende Moreira Franco, a PGR cometeu “um série de erros e abusou do exercício de acusar”. “Não se acusa ministro e presidente da República sem provas, sem indícios de autoria. Aqui não houve investigação, há uma coleção de provas ilícitas”, afirmou.
Apesar da vitória do governo, os discursos contra Temer predominaram desde o início da fase de debates, nesta terça-feira. Ao longo dos dois dias, os governistas abriram mão de suas falas e, consequentemente, de uma defesa mais contundente do presidente, para acelerar a votação e garantir a análise da denúncia em plenário na próxima semana.
Mesmo assim, o clima esquentou durante a votação. Deputados da oposição levantaram cartazes e gritaram o bordão “fora Temer” e “não, não, não, não ao tapetão”. Governistas reagiram gritando “e o mensalão?”, em referência ao escândalo do governo petista.
Ao encaminhar a votação, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que houve uma “permuta” entre PMDB e PSDB: em troca do relatório favorável de Bonifácio, o partido de Temer teria ajudado a livrar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Assim como na primeira denúncia, no entanto, a bancada tucana votou em sua maioria contra Temer na CCJ – foram 5 votos a 2.
Também houve tumulto quando o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) acusou o governo de comprar votos para garantir a permanência de Temer na Presidência. Parlamentares da base reagiram aos gritos no plenário.
PERDA DE VOTOS
Da primeira para a segunda denúncia, o presidente Michel Temer perdeu dois votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O placar ligeiramente menor nesta quarta-feira, 18, é fruto da decisão do PSB de trocar, na última hora, integrantes do colegiado para garantir os quatro votos do partido contra o peemedebista. Veja como votou cada deputado.
O governo, no entanto, atuou para garantir que as demais bancadas mantivessem a mesma configuração de votos da primeira denúncia. No PSD, por exemplo, o deputado delegado Éder Mauro (PA) foi substituído por Edmar Arruda (PR), que votou pelo arquivamento do processo.
Com isso, o chamado “Centrão” – bloco formado pelo PSDB, PR, PP, PRB, PTB, PSC – manteve a fidelidade a Temer e garantiu quase 100% dos votos do para o governo. A exceção ficou por conta da Solidariedade, que, assim como na primeira denúncia, deu um voto a favor do governo e um contra.
No PMDB, a novidade foi o voto favorável a Temer de Osmar Serraglio (PR), que na primeira denúncia não participou da votação pois estava descontente com o governo depois de ter sido defenestrado do Ministério da Justiça.
As defecções vieram da onde já se esperava. O PSDB, por exemplo, repetiu o placar majoritário contra Temer. Foram cinco votos a três, contabilizando também o do relator Bonifácio de Andrada (MG), que permaneceu na comissão na vaga que cabia ao PSC.
No DEM, dos quatro deputados, Marcos Rogério (RR) manteve a sua posição e foi o único a votar a favor do prosseguimento da denúncia.
Minoritária, a oposição (PT, PDT, PCdoB, Pode, PPS, PSOL e Rede) votou fechada a favor da investigação contra Temer e os ministros.
Fonte: Estadão